Por Pedro Gomes
Perguntas:
P. Dentre
todas as ciências que hoje existem, porque a química? Porque o senhor
escolheu-a para sua carreira de vida?
R. No
Ensino Médio me encantei, na verdade, foi com a Física. Não tinha tanta admiração
pela Química. Por outro lado, sabia que queria fazer Engenharia, e escolhi a
Engenharia Química na UFPE, mas não tinha tanta certeza de qual Engenharia.
Assim, iniciei também Engenharia Civil na Universidade Católica. Comecei a
gostar mesmo de Química foi quando comecei a estudar as disciplinas de
Físico-Química no curso de Engenharia Química. Nesse momento, descobri o que
queria fazer ao longo da vida. Daí se seguiu o Doutorado na UNICAMP e o
Pós-Doutorado no Politécnico de Milão, sempre em Físico-Química dirigida ao
estudo de estrutura de moléculas.
P. O que
há de especial nessa forma de ver a realidade(de ver as coisas pelo ponto de
vista da química)?
R. Sempre
achei fascinante o fato de a forma das moléculas, se linear, planar ou não,
angular...está associada às suas propriedades e reatividade. Conhecer a
estrutura das moléculas me encanta até hoje. O exemplo mais marcante é a
estrutura do benzeno. Gostaria de ter feito essa descoberta e assim, invejo
Kekulé.
P. A
respeito da química teórica, até que ponto vai sua utilidade e como ela se
expressa?
R. A
química teórica me fascinou quando ingressei no doutorado na UNICAMP. Ela nos
permite determinar a estrutura e as propriedades de moléculas. E assim, tem
várias aplicações, especialmente de forma conjugada com a química experimental.
Com ela estudei a relação entre estrutura e atividade biológica das moléculas,
permitindo assim prever fármacos mais potentes e menos tóxicos. Ela me
propiciou o estudo de moléculas no espaço interestelar, que levou a descoberta,
por exemplo, dos carbenos na região de Taurus. Outra bela aplicação, ao longo
de minha vida, foi o estudo de complexos de hidrogênio. Existem muitas outras
aplicações interessantes e encantadoras.
P. Quais
foram os trabalhos e pesquisas que mais achou interessante, que mais lhe
intrigaram e o mobilizaram?
R. Acho
que respondi na pergunta anterior, mas a descoberta da molécula C3NH na região
de Taurus me deixou muito realizado.
P.Como é
a vida de um pesquisador? Há algum projeto ou sonho que quisera fazer e não fez
ou quer fazer e não pode?
R. Ser um
pesquisador requer disciplina, determinação e muito estudo – sempre. No início
de meus cálculos computacionais, que exigiam muito espaço de memória e tempo
computacional “dormia” (noites e noites acordadas) na universidade, pois a
noite o computador estava mais livre. Finais de semana no laboratório, muito
sacrifício, mas fazia com muita alegria, pois fazia com prazer o meu trabalho.
E quando saia os resultados publicados numa revista de prestígio internacional
era o momento do “grande gol”, de que havia sido válido todo o sacrifício.
Acho que
fiz tudo aquilo que planejei até aqui, estou sempre me sentido realizado, mas
inquieto, graças a Deus!
P. Como
surgiu o interesse na educação?
R. O
tempo corria de forma muito intensa na minha vida profissional. E muito jovem,
aos 34 anos, fui convidado para ser pró-reitor acadêmico da UFPE. O trabalho
foi reconhecido pela comunidade e fui eleito o reitor mais jovem do Brasil. Fui
o primeiro reitor reeleito da UFPE. Oito anos de muito trabalho, de dedicação
intensa a UFPE. O trabalho chamou a atenção da sociedade e fui levado ao cargo
de Secretário de Educação do Estado de Pernambuco. E aí começou a minha
segunda, hoje primeira, paixão: a Educação! E hoje me dedico exclusivamente às
políticas públicas da Educação, deixei a Química, mas meus ex-alunos, de
maneira brilhante, continuam o legado deixado nesse campo.
P. Do que
a educação realmente trata? Quais são suas esferas de influência no humano?
R. A
Educação que é capaz de promover o ser humano em toda a sua plenitude: ética,
moral, social e cultural. A Educação é o único vetor capaz de alinhar
desenvolvimento econômico com o social. Esse é ainda o grande desafio
brasileiro; nosso país é a 7ª potência mundial em termos de toda a riqueza
produzida, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), mas encontra-se, por outro
lado, na 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Trabalhar em
prol de uma Educação de qualidade para todos os brasileiros me instiga e me
motiva profundamente. Tornar a carreira do magistério objeto de desejo da nossa
juventude é o maior desafio!
P. Qual é
sua real importância?
R. Acho
que falei, em parte, na questão acima. Mas acrescentaria que a sustentabilidade
de um país passa necessariamente pela Educação, pois constrói um ambiente de
cultura de paz, de equidade social, de valores éticos e morais, de igualdade de
gênero, de melhor distribuição de renda, ou seja, leva ao desenvolvimento
sustentável.
P. No Brasil,
o senhor e a Milú Vilella se pronunciaram numa matéria do jornal do comércio de
são paulo, e mostraram que a educação só pode aqui melhorar se houver
incentivos à carreira do professor(a valorização no geral). Somente desta
maneira o Brasil pode deslanchar e crescer enquanto economia. O que podem fazer
os brasileiros (no geral) para consumar esse fato?
R. É
preciso que a população eleja a Educação como a sua maior prioridade, seu bem
maior, por tudo que falamos aqui. Mas, grande parte dos governantes só a
priorizam no momento das eleições, e depois esquecem do que prometeram. O que
era antes investimento passa a ser despesa, essa lógica precisa ser alterada.
Felizmente, a população está cada vez mais escolarizada. Os pais antes cobravam
vaga nas escolas para seus filhos. Hoje, eles sabem que isso é um direito que
lhes cabem. Eles começam agora a cobrar aprendizagem, e isso vai mudar o país.
Para
tornar atraente e valorizada a carreira do magistério é preciso investir mais
em educação e gerir melhor esses recursos, de forma que os mesmos cheguem às
escolas, investindo no salário e no plano de carreira do professor, pautado em
formação continuada e melhor desempenho em sala de aula.
P. Qual é
sua(s) previsão(ões) para o estado da educação nos próximos 5, 10 e 20 anos?
R. Eu só otimista.
O Brasil vai dar um salto educacional, está no caminho certo, mas precisa
acelerar. O maior desafio é a escola do jovem – o ensino médio está estagnado
há mais de 10 anos, mas podemos mudar isso com a participação e envolvimento da
sociedade, dos pais e das instituições. Para isso, precisamos sair do atual
trinômio: escola do século 19, professor do século 20 e aluno do século 21. É
preciso colocar todo mundo no século 21. As novas tecnologias estão aí para
ajudar, mas vai precisar de bons professores. O professor deveria ser o grande
protagonista deste século – do conhecimento e da inovação. São tempos da
chamada Economia Criativa.